Alimentação Afetiva
Sou mais doceira e cozinheira
do que escritora, sendo a culinária
a mais nobre de todas as Artes:
objetiva, concreta, jamais abstrata
a que está ligada à vida e
à saúde humana.
(trecho do poema: Cora Coralina, Quem É Você?)
Viver e cozinhar são ordens alquímicas. A vida se expressa de forma simbólica, seja em metáforas, em sonhos ou atitudes concretas. A Cora Coralina, autora do pequeno poema que eu trago neste texto, se considerava mais doceira do que poeta. Dedicou boa parte de sua vida, preparando os quitutes mais tradicionais de Goiás Velho. Ela cozinhava versos e rimava doces, para garantir o seu sustento. Cora dizia que não fazia doce com pressa. Era necessário o tempo oportuno para cada coisa...
Para alguns, a comida pode trazer as memórias afetivas: o cheiro de temperos dourando na panela da Vó Tereza; a casa cheirando o bolo da Tia Neuza; as rosquinhas carregadas de afeto da vó Maria com o seu chá; o bolo salgado da mamãe; as goiabinhas da Dona Inês e por aí... Quantas lembranças boas e deliciosas!
Comer não nutre apenas o corpo de modo físico. Nutre a alma! Comer é um ato nutricional, emocional, físico, cultural, regional, social, econômico e político! Por uma perspectiva psicológica, cozinhar e comer pode revelar algo sobre nós e sobre o mundo também.
A comida pode provocar laços que unem, abertura para o amor, rememorar lembranças que aquecem o coração e mais que isso tudo, constitui a história de todos nós. “Gastronomia é a arte de usar a comida para criar felicidade”, assim disse Théodore Zeldin, historiador, sociólogo e filósofo.
Como tantas coisas em nossas vidas, cozinhar e comer também demandam tempo, paciência, disposição, tentativas (com acertos e erros). É quase que um exercício para sentir a sensibilidade e as pequenas sutilezas da vida.
Podemos pensar que a vida e a cozinha estão ligadas, pois quando dedicamos um tempo nosso para preparar o que vamos saborear, podemos entrar numa espécie de silêncio (ainda que dentro de nós), de acolhida, de paciência, de pensamentos mais quietos e ideias em ordem. Podemos provocar estes movimentos sutis e delicados, pois os pratos precisam de tempo para apurar, cozinhar e ganhar forma... Muitas das vezes inseridos neste compasso, o coração acalma e a alma se reencontra.
Já parou para pensar qual a sua relação para com os alimentos? E quais as memórias afetivas alimentares que você tem?
Cozinhe os sentimentos, asse as emoções, espere as ideias fermentar e deguste a transformação...

Thais Tortosa - Psicóloga
(CRP 06/150788)
Entre versos, passos e compassos Idealizadora e fundadora do @alemdanossamesa
@thais.tortosa